O novo coronavírus pegou todo mundo de surpresa. De uma hora para outra, mudanças radicais aconteceram e nos impuseram uma nova realidade, diferente de tudo que já havíamos vivido.
Nesse cenário, muitos obstáculos surgiram, especialmente no ambiente corporativo. Por serem inéditos, contorná-los tornou-se um grande desafio. Passamos a buscar direcionamentos por meio de experiências vividas em contextos externos e também em nosso próprio ecossistema.
Por meio do aprendizado ongoing, no estilo learn by doing, elenquei alguns tópicos que considerei essenciais para otimizar a gestão de pessoas nesses tempos de crise. Acompanhe!
1. Empatia
A Covid-19 vem exigindo das lideranças uma extrema empatia, até mesmo para lidar com os colaboradores mais jovens que, apesar de serem menos suscetíveis a desdobramentos graves da doença, também estão assustados com a situação.
É essencial, então, se colocar no lugar do outro e buscar entender o que passa na cabeça de cada um — seus medos e preocupações. É preciso ter o olho no olho, observar as interações, ouvir as inseguranças e traduzi-las em práticas de gestão efetivas.
Por mais que algumas medidas não sejam comuns à organização, vale avaliar o que é importante nesse momento. Pense no dia a dia dos funcionários: como estão indo para o trabalho, em quais espaços estão se acomodando, como estão se alimentando, de que forma são tratados quando manifestam determinado sintoma etc.
Entender como vivem auxilia no desenvolvimento de políticas organizacionais que possam auxiliá-los. É possível, por exemplo:
- implementar home office, criando meios de adaptar as funções desempenhadas na empresa e ensinar às equipes como podem ser produtivas nesse formato;
- ajustar a carga horária e oferecer alternativas de translado para os colaboradores em cenários nos quais o trabalho remoto não seja viável;
- criar ações para auxiliar as mães a conciliar melhor a nova rotina de trabalho com os filhos;
- rever os benefícios oferecidos, adequando-os à nova realidade.
2. Resiliência
Esse tópico me remete a muitos insights do livro Líderes se servem por último, do Simon Sinek. O autor relata que, em períodos de guerra, os líderes da força armada americana são os últimos a saírem do campo de batalha. E, mesmo quando se recolhem, eles aguardam que todos da equipe façam suas refeições, priorizando que tenham acesso ao alimento.
Adaptando essa perspectiva ao que estamos vivendo hoje, a lição que tiro é que os líderes devem ser os últimos a irem pra casa. Eles precisam estar ainda mais fortes no posto de trabalho para apoiar e resguardar os colaboradores.
Cabe a eles suportar a situação e transmitir segurança, servindo de exemplo para os times e acalmando-os para que o pânico não se instale. Não há mal nenhum em demonstrarem que não têm todas as respostas e que, em alguns momentos, possam estar apreensivos. Entretanto, é preciso respirar fundo e mostrar confiança, tomando as melhores decisões para facilitar a vida das pessoas.
3. Acompanhamento da mudança de comportamento
A Covid fez com que a gente se isolasse da sociedade, mas, por outro lado, nos levou a resgatar o valor dos momentos em família. Passamos a valorizar um simples sorriso, um bate-papo após o almoço e outras particularidades desse convívio que se tornou mais intenso.
No âmbito profissional, a mudança de comportamento também vem sendo perceptível. Os colaboradores estão mais preocupados com a forma como seu comportamento impacta os outros, voltando os olhos para o coletivo.
No mais, estão aprendendo a se reinventar para manter suas entregas mesmo diante das adversidades. Isso evidencia que não existem barreiras que nos impeçam de fazer o que gostamos. É papel do líder, então, reforçar esse laço emocional com o trabalho e incentivar a convergência do comportamento que a empresa precisa.
4. Promoção da comunicação
A comunicação organizacional é um grande trunfo. Contudo, muitas empresas ainda não aprenderam a se comunicar bem. Com o avanço da tecnologia, as pessoas passaram a dar mais valor para o veículo do que para o conteúdo em si.
O que precisamos ter em mente é que a mensagem segue sendo o principal elemento. Ela deve ser transparente e impactante. Nesse momento, é importante que demonstre o cuidado com o profissional e mexa com seu coração.
Ninguém trabalha para um CNPJ, mas sim para pessoas. Por isso, os líderes devem se manter próximos e mostrar que estão totalmente abertos para auxiliar no que for necessário. Essa é a hora de encantar!
5. Atuação do RH como player
Deve estar no DNA do líder a preocupação com as pessoas e a confiança no RH. Esse setor precisa ser visto como um jogador e não só como um parceiro, como era no passado. O trabalho integrado, ombro a ombro, possibilitará a realização de análises reais e implementação de soluções efetivas dentro das possibilidades da empresa.
Engajamento dos colaboradores
Estamos passando por um período que demanda, mais que nunca, o engajamento dos trabalhadores. “Vamos precisar de todo mundo”, já dizia Beto Guedes em sua canção. E é verdade: só a união superará essa crise.
Para isso, é importante que os líderes e o RH entendam o que move cada funcionário. Somente assim é possível fazer proposições que realmente tenham valor para eles. Além disso, é essencial que sejam adotadas medidas no cotidiano da empresa para demonstrar o quanto o trabalho do colaborador é importante, indiferente da sua área de atuação.
Seja parar o expediente pra falar obrigado, gravar vídeos, distribuir lembrancinhas… atitudes singelas, que não demandam grandes investimentos, mas dizem muita coisa. São gestos assim que reforçam a admiração pelos trabalhadores e despertam um efeito poderoso no clima da organização.
É por meio dessa gratidão e amor genuínos, dessa dose de ocitocina, que ajudamos os profissionais a ficarem firmes para encarar esse momento e também a retomada pós-crise.
Processo de desligamento dos profissionais
A crise é difícil para o empregado e para o empregador. Afinal, a empresa também tem sua estrutura abalada, especialmente no quesito financeiro. Diante da necessidade de redução de gastos, é preciso ser criativo para fazer mais com menos.
Esse é um momento de balancear custos, mas sem deixar de fomentar ações que vão apoiar organização a encarar essa transição. As decisões devem ser conscientes e pensadas não apenas em curto prazo.
Nesse cenário, por mais que investir nas pessoas seja uma prioridade, provavelmente será necessário rever quadro efetivo para manter empresa saudável. Então, é recomendado que o RH avalie junto ao gestor, de forma criteriosa e justa, quem será desligado de acordo com suas skills e demandas do negócio.
Definir o dia e o horário do anúncio, a forma como a informação será transmitida, bem como o pacote de benefícios oferecido e a possibilidade de indicar o profissional para outras empresas são aspectos muito importantes, visto que demonstram respeito e tornam o processo menos doloroso.
Vale lembrar que as demissões impactam que saiu e quem ficou. As pessoas que continuarem na organização estarão atentas a essas situações pelo receio de também serem desligadas. Então, se virem que não houve ética no processo, perderão a confiança na empresa, conviverão com maior insegurança (gatilho para Síndrome do Impostor) e, como consequência, menor comprometimento.
A Covid veio a fórceps transformar nossa sociedade. O fato é que, com atenção e cuidado essas mudanças tendem a fluir mais naturalmente. Ao final, sairemos mais fortes, com perdas, mas também com muitos aprendizados. E se tem uma coisa que a nova geração está apta a fazer a aprender!
E então, o que achou das dicas? Compartilhe este artigo com seus colegas e ajude a difundir boas práticas para otimização da gestão de pessoas em tempos de crise!