Esse texto é um ato de coragem, acreditem!
Desde que comecei minha carreira como professora primária e, na sequência adentrei na carreira de treinamento, consultora e professora de pós no Insper, fui consolidando uma crença de que meu dom era “falar em público”.
Muitas vezes até justifiquei: “Não sou muito boa para escrever! Mas falar, isso sim me dá prazer!”.
Tendo essa confiança, palestrei para números grandiosos (mais de 2 mil pessoas em única audiência), para públicos difíceis (C-level em momentos de crise e disputas) e em momentos críticos no quais eu ficava completamente vulnerável. Mas sempre arrasava. Esse era o verbo que eu conjugava.
Treinei muita gente sênior, até CEO’s em como falar e o que falar em público, para vários projetos estratégicos em que participei.
Cheguei no limite da arrogância, quando meu time me mostrava, cerca de 60 minutos antes da reunião e/ou palestra, um determinado conteúdo e eu apresentava de forma tão brilhante, que até eu mesma me assustava.
É claro que em momentos mais importantes, eu me preparava estudando o conteúdo, treinando na frente do espelho e até praticando exercícios de Yoga e meditação. Acredito que treinar é muito importante. É até um ato de respeito com a audiência. Afinal, as pessoas estão lá, usando o tempo delas para te assistir e merecem o seu melhor.
90% das vezes, saí das minhas palestras ouvindo ótimos feedbacks e me achando realmente uma das melhores comunicadoras. Era assim que eu me considerava, excelente! Para mim era claro que a minha missão era comunicar e garantir que o público compreendesse a mensagem que eu me propunha a passar.
Contudo, tive recentemente uma experiência desastrosa…!
Foi a pior apresentação da minha vida profissional. Uma apresentação de cinco slides, de um conteúdo mais do que dominado, para uma plateia de aproximadamente 60 pessoas.
Senti todos os impactos da adrenalina na minha corrente sanguínea: boca seca, voz e mãos trêmulas, tela branca e ausência de repertório e, muito, muito desconforto. Não tive uma alta performance como sempre garanti.
Não sei qual foi a causa-raiz. Talvez a mudança de cenário de consultora que agora é “funcionária”, uma plateia de médicos (público que ainda estou tentando conhecer), ou até… eu não estava em um bom dia, não me preparei o suficiente. Ou talvez, todas as respostas acima.
O impacto na autoestima? Enorme!
Preocupação com o que as pessoas estavam pensando? Gigante!
O medo do julgamento e das críticas me faziam acreditar naquelas temidas vozes mentais da autocrítica: “Como ela tão experiente ficou tão nervosa”. “Será que as pessoas irão acreditar no que falei?”. “Será que irão me julgar incompetente?”
Que sensação ruim! Que vontade de começar o dia do zero e fazer uma apresentação diferente. Eu sei que sou capaz, porque não consegui mostrar isso? Quem nunca passou por isso, não é mesmo?
Mas a experiência de lembrar, no alto dos meus 51 anos, que sou uma eterna aprendiz, que sou vulnerável, me fez refletir sobre o “erro”.
O mesmo “erro” que venho pregando nas minhas discussões sobre cultura ágil, de aprendizado, no qual estamos desconstruindo a todo tempo nossas fortalezas, que em certos momentos são como âncoras e não nos deixam seguir.
Lembrei de Brené Brown, que muito admiro, mas que eu não conseguia empatizar porque achava falar em público algo tão simples quanto escovar os dentes… Achava até que a vulnerabilidade dela não era tão vulnerabilidade. Como pode, uma mulher tão inteligente e capaz acreditar que é vulnerável? Ela já parecia tão preparada e competente. Me esqueci de olhar além do que ela já apresenta hoje e lembrar que ela, assim como eu e você, somos uma eterna construção de aprendizados e experiências.
Mas é isso mesmo. A cobrança que depositamos sobre nós mesmos, somada à arrogância disfarçada de confiança em certos momentos nos impede de crescer. Crescer como profissional, mas fundamentalmente como pessoa, que entende que o outro que “treme quando vai falar em público” está sentindo uma dor grande e legítima.
Mas, principalmente, aprendi também a possibilidade de me “perdoar”, porque eu me cobro o tempo todo pela minha vaidade em ser perfeita, mesmo que o discurso seja politicamente correto: “Eu sou humana”. Você também é assim?
Pois vivenciei essa humanidade. Amigos que me conhecem e que me assistiram, foram extremamente carinhosos e me afagaram. Me empoderaram e demonstraram a importância que o problema merecia: nenhuma…rs!
E como conclusão, compreendi que temos que nos valorizar pela soma de todos os dias, bons e ruins, de sucesso e de insucesso, de segurança e insegurança. E sobre quem vai nos julgar? Nós é que somos os mais cruéis – nunca se esqueçam disso! Somos nós a maior voz de crítica que vamos encontrar por aí. O outro que nos assiste é tão humano quanto nós.
Ou seja, se você também passar por isso, e garanto que um dia vai, você pode se colocar em um lugar péssimo, ou se retirar dele com compaixão e empatia por si mesmo. Só depende de você mesmo!
Aprendizado do dia, que bom que não fui bem… porque assim, da próxima vez posso ser muito melhor. A HBR de fevereiro de 2019, trouxe um artigo* excelente falando da tolerância ao erro. Deu ênfase ao quanto é difícil criar uma cultura que valorize tanto o aprendizado resultante do fracasso como o desempenho excepcional em empresas cujo histórico não privilegia nenhum deles. O arquivo questiona o fracasso produtivo e improdutivo: fracassos produtivos levam a informação valiosa relativa ao seu custo. O fracasso deveria ser comemorado somente se resultasse em aprendizado.
E você? Já passou por uma experiência assim? Se sente confortável em compartilhar? Se sim, compartilhe e permita que outros possam aprender com a sua vivência também!
Viva Brené Brown!