Benice

Gestão da Mudança no Ágil

Na pesquisa que realizei via linkedin sobre temas de maior interesse, o mais votado foi Gestão da Mudança no Ágil. Confesso que fiquei bem feliz por ser uma vivência recente e de forte transformação pessoal para mim.

Lido com a “implantação do novo” a mais de 20 anos e quem me conhece sabe o quanto sou apaixonada pelo tema. Lembro que quando eu era estagiária na #Bunge Alimentos, eu atuava nos projetos de qualidade total e a mudança do modelo mental era a base para implantação desses programas e alcance de eficiência e eficácia dos processos.

Mas não tínhamos um nome, uma metodologia que sustentasse a geração de motivos para que uma pessoa agisse de forma diferente. Não existia um nome “fancy” para apoiar a necessidade de coalizão entre as pessoas impactadas pelas mudanças, criando um ambiente, ou mesmo um grupo, que pudesse discutir o assunto. Temos que lembrar, que sempre que queremos marcar algo, ou alguma coisa, precisamos dar um nome ou um conceito. Neste caso, estávamos fazendo algo novo, ainda não existente, e a inovação, sempre é confusa, cheia de percepções que amadurece com o tempo. Portanto, desde sempre, fiz inovação, mesmo sem saber que estava fazendo.

Sabe o combinado que fazemos com as crianças? Onde explicamos, por exemplo, que não devemos falar palavrão, agimos como “role model”, ensinamos atitudes corretas e também reconhecemos quando se comportam bem? Exatamente isto…

Sim, é disso que estamos falando. Do entender o porquê racionalmente e agir alinhado com todos os envolvidos. Sempre achei tão lógico. Mas por que era tão difícil? Por que as pessoas eram do mal? Acordam dispostas a derrubar nossos planos e projetos? Tinham prazer em dificultar nossa vida? Nada disso.

Naquela época não existia a neurociência para explicar que o racional (Córtex Pré Frontal[1]) está coberto de razão, ops de emoção… rsrs. E eu que sempre gostei de desafio, fui me embrenhado nesse tema, vivendo, aprendendo, errando e estudando. O mais gostoso de tudo, é que sempre é diferente. Porque as pessoas, empresas e culturas são diferentes. Então os “toolkits” da consultoria não ajudavam muito. Só nos lembravam o que não deveríamos deixar de fazer. As atitudes das pessoas mudam e estas mudanças que são a chave da inovação. Algo que aprendi com o tempo, é que, às vezes, quando uma pessoa tem uma atitude estranha ou ilógica, nem sempre ele está agindo de forma incoerente. As ideias malucas que ele está tendo, podem vir a revolucionar o mundo. Portanto, preste atenção nas pessoas fora da curva. Elas podem estar querendo te dizer algo.

A exatos 6 meses, começamos um lindo projeto de transformação do negócio e, como se não bastasse a complexidade, nós “um tanto arrogantes” decidimos fazer a gestão da mudança usando a filosofia ágil. Sim, filosofia e não metodologia, porque queremos ir além das regras, queríamos trabalhar de acordo com as mais antigas práticas de Platão e Heráclito, que seria a contemplação ou observação e a dialética, que podemos dizer que é discutir, discutir e discutir. Queríamos redefinir as verdades e buscar novas verdades, em um mundo que não para de nos surpreender.

Nesse momento nos demos conta de que os primeiros a mudar deveríamos ser nós (lembrando que estamos fazendo uma abordagem filosófica): equipe do projeto ou, podemos dizer, de filósofos. Precisávamos estar atentos as novas atitudes, sinais, falas, pensamentos presentes e não ao comportamento de amanhã, em uma entrega longínqua.

Nos demos conta de que a abertura a mudança e a transparência, eram pré-requisito para o sucesso, que a forma de medir os resultados não deveriam mais refletir datas e sim valores entregues e que as pessoas precisavam descobrir que elas não conseguem fazer nada sozinhas. É muito importante lembrarmos que pessoas diferentes, falam coisas distintas e até antagônicas ao que pensamos. Esta é a riqueza da diversidade. Muitos olhares distintos sobre um mesmo problema.

Sim, se as pequenas entregas são rápidas, precisamos tirar da frente as barreiras. Se o produto vai ser testado em uma primeira versão, vou precisar envolver o cliente agora e não vou conseguir monopolizar o projeto, fazendo valer o que eu quero ou acredito.

Compartilhando com vocês, descobrimos (com o coaching do meu Amigo @FernandoArbache) que a humildade é a competência “core” do ágil. Ela precisa ser exercitada a todo momento para que eu não faça do projeto a minha vitrine ou trampolim de carreira, mas sim uma sequência de entregas diminutas, simples, mas consistentes com a necessidade do cliente.

É claro que que erramos, mas aí é que está o ganho. É claro que não sabíamos exatamente o que sairia como resultado de um workshop de ideação, por exemplo. Mas lidar com essas incertezas é o que faz com que a gente teste rápido e ajuste rápido.

Mas o que eu aprendi? Além de toda filosofia que reforça meus valores e competências (citar as competências), que o Cliente é o centro de tudo e que o projeto está a serviço dele. O amanhã não vai chegar se meu concorrente entregar primeiro.

“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça é preciso ter sonho, sempre!” É preciso gerir seu projeto com um jeitão de adolescente: Sabe aquele, simpático, descomplicado, que rir dos seus erros, que gosta de viver em bando, mostrar suas espinhas e vulnerabilidades e que não se importa de sujar a mão de graxa pra colocar o motor para funcionar? Exatamente. Não é uma questão de usar jeans e tênis, e sim de aceitar a insegurança e trabalhar em time, onde cada um sabe um pouquinho do fundamental.

Complexo, não? Ágil.

Para sair do romance e trazer o pragmático, que acho que é o que você espera nesse artigo, na minha opinião não existe ágil sem gestão da mudança. A diferença é que na maior parte dos projetos waterfall, a gente tem que vender a mudança para quebrar as resistências naturais. Criamos um escopo fechado, de algo que iremos fazer, sem ao mesmo saber o que é, pois lembre-se, estamos fazendo inovação. A gente tem que mostrar toda hora que o cliente precisa “daquilo que você está construindo para ele”. Não que waterfall seja melhor ou pior, é apenas o fato de que ele funciona muito bem, para projetos em que o escopo é conhecido, porque o projeto já foi diversas vezes feito e sabemos exatamente o que nossos clientes querem e o que iremos entregar. Tudo que não acontece em projeto inovadores. Por isto o ágil e por isto, a necessidade de mudar o mindset.

No ágil, você que precisa aceitar que você tem que desenvolver aquilo que o cliente precisa. E se você não o fizer, fique tranquilo, porque você vai saber logo nas primeiras semanas que o que você construiu, não funciona.

Partindo disso, a metodologia de Gestão da Mudança no ágil, está baseada no fazer o time trabalhar junto, entender seu papel, aprender competências como a humildade, gerenciar os egos e trabalhar o modelo mental de que devemos partir de uma folha em branco, mas nunca perder o valor a gerar.

Se você está gerindo um projeto hoje nessa filosofia, as dicas da minha inexperiente vivência, são:

1.      Analise a prontidão para a Mudança da Organização e das pessoas

2.      Desenvolva os soft skills do time do Projeto

3.      Envolva o cliente na concepção do produto

4.      Crie um ambiente de confiança

5.      Reconheça e celebre as entregas

Nos próximos artigos, detalharei e compartilharei com você, o como de cada uma dessas etapas.

Bom, esse foi meu aprendizado, mas tenho certeza que você também tem coisas riquíssimas para me ensinar.

[1] O processo neuropsicológico mais importante que está relacionado com o córtex pré-frontal é a função executiva. A função executiva, está associada com a habilidades para que possamos diferenciar pensamentos conflitantes, percepções do que poderá acontecer no futuro, caso tenhamos algum tipo de acritude presente. O Córtex pré-frontal fará uma associação de nossas metas definidas e as associará com previsão do que pode acontecer, avaliando as expectativas de nossas ações. A função executiva irá ajudar no planejamento, nas tomadas de decisões, atenção e memória de trabalho. O córtex pré-frontal tem uma grande implicação em nosso comportamento social. Caso o desempenho do córtex pré-frontal seja falho, agiremos com impulsividade, agressividade e inadequação social.

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