Eu trabalhei na Accenture por 20 anos. Sem dúvida nenhuma, uma grande empresa, com valores muito sólidos e com uma única identidade, mesmo dispersa geograficamente e culturalmente em vários Países. Se você vai a outro País e encontra alguém que seja “Accenturiano”, você o reconhece facilmente.
Esse novo jeito de trabalhar, virtualmente e em colaboração, já existia desde que eu entrei. Não é à toa que a Accenture é a potência que é, com mais de 500 mil funcionários no mundo, digital e inovadora e com suas ações em frequente crescimento na bolsa.
Na minha visão, grande parte desse sucesso vem da atuação do RH Corporativo internacional (COE – Center Of Expertise) que sempre esteve à frente das tendências (inclusive com centros de pesquisas). Investia tempo e dinheiro no fomento de uma cultura com valores, como stwardship (deixar um legado para gerações futuras).
Esse jeito de gerir pessoas teve um impacto muito positivo no meu desenvolvimento integral. Lá, aprendi a liderar, a ser mentora dos profissionais em um nível de carreira abaixo do meu e também a ter mentores. Pude desenvolver minhas skills de sala de aula como o Faculty, no qual todos os Líderes treinam seus times em temas diversos.
Foi assim que conheci a ferramenta Social Style (David Merrill & Roger Reid, Personal styles and effective performance), na qual todos éramos treinados para melhorar nossa comunicação com o Cliente.
Como Psicóloga, conheci muitos testes de personalidade e comportamento, mas absorvi facilmente o Social Style. Quando percebi, estava usando seus conceitos na minha vida pessoal, inclusive.
A abordagem consiste em quatro estilos predominantes de comportamento: Diretivo (Driving) Expressivo (Expressive), Amável (Amiable) e Analítico (Analytical). Como a maioria dessas abordagens, o objetivo não é rotular as pessoas, mas sim entender o estilo de comportamento social que cada um possui. A partir disso, direcionar e melhorar sua comunicação e relacionamento.
Nós vivemos várias mudanças ao longo da vida, principalmente se nosso contexto sofre mudanças. Segundo o neurocientista Facundo Manes, “o contexto influencia muito no nosso comportamento, inclusive ditando a conduta aceitável, em um ou outro contexto.” Por isso, se estivermos sob pressão, nosso comportamento também irá mudar.
Salvas as variáveis, esse modelo sempre foi, para mim, fácil de entender e de usar. Inclusive junto aos meus Líderes. Entender como eles “funcionam”, qual o comportamento predominante, me ajudava na comunicação. Isso também com o cliente. E credito muito da minha carreira de sucesso à essa “leitura de contexto e comportamento”.
Na liderança, por exemplo, já tive de todos os estilos. O que mais me chamava atenção era o tipo “driving” ou Diretivo, que é descrito como ativo, persuasivo e, por vezes, agressivo. São pessoas diretas, que iniciam interações sociais e concentram esforços nos objetivos que precisam ser realizados. Eles tomam decisões com base em resultados. Com esses Líderes, sempre fui preparada para ter apenas 15 minutos de conversa. Eles não gostam de detalhes e preferem ouvir. Já aconteceu de alguns pares falarem para mim: me ajude com o Líder X… eu não consigo estabelecer uma comunicação com ele. Isso porque o diretivo se cansa durante a conversa, ele quer tomar decisão, quer fatos ligados a resultados e você não pode perder essa “vibe”, porque senão, ele para de prestar atenção em você.
Já tive também muitos Líderes Expressivos ou “expressives”, que predominantemente buscam saber o que está acontecendo. As pessoas com esse estilo são vistas como ativas, persuasivas e que fazem sua presença conhecida. Eles se envolvem emocionalmente, são impulsivos e assumem risco. Com esses, você pode levar horas conversando, mas tem que “rolar” interesse genuíno pela pessoa, pela história e até pela vida pessoal. Tomam decisões com base na emoção e odeiam rotina.
Na consultoria, por exemplo, predominavam pessoas no estilo Diretivo e Expressivo, que se adequam mais ao trabalho de relacionamento com clientes, à atuação em times virtuais e multi funcionais e que gostam de “falar” e se expor. Comportamentos necessários nesse tipo de entrega. Contudo, os outros também são necessários na consultoria, para garantir o “deep dive” nas informações, pesquisas, gestão etc.
Mas não existe o estilo certo e o errado. O ideal é termos, em um time, um equilíbrio de todos para que tenhamos diferentes modelos mentais interagindo e garantindo que todas as perspectivas serão pensadas.
Enfim, existem várias metodologias no mercado. Mas, o mais relevante para mim, é a importância de nos dedicarmos a entender o outro. Não somente no comportamento, mas a realidade, momento e contexto de cada um. Como nós, as pessoas vivem em suas vidas problemas e felicidades.
O exercício deve ser o de se conectar ao outro, usar a empatia e adotar um comportamento no qual a gente dirija a conversa, a interação, que nos ajude a ter mais sucesso nessa relação e também a se adequar ao momento do interlocutor.
Funcionou muito para mim. Espero que para você também !
Quem se arrisca a adivinhar meu estilo predominante?
( ) Analítico
( ) Diretivo
( ) Amável
( ) Expressivo