De novo a tecnologia e a mudança que ela trouxe para a nossa vida, meros mortais… Com o advento da internet e tantas possibilidades de conexão, acabamos por ser estimulados a todo instante e não nos damos conta de como isso pode ser prejudicial a nossa saúde mental e física.
Venho de uma geração em que a mulher foi criada para ser a Mulher Maravilha (casa, marido/companheiro, executiva, projetos, cuidar da beleza e ainda tem que ser excelente mãe). Por um tempo acreditei nisso e ainda me gabava de que as mulheres conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Tem até uma palestra do Pr Claúdio Duarte, muito engraçada, que compara como as mulheres e os homens conduzem suas “responsabilidades”. Vale a pena ouvir.
Depois de muito esforço, estresse e sentimento de incompetência, descobri que não. Não consigo fazer tudo ao mesmo tempo. É humanamente impossível e além disso é ESTRESSANTE. O que acontece é que nós, homens e mulheres, fazemos escolhas em determinados momentos da nossa vida, priorizando a “dimensão” que nos dedicaremos mais. Não quero mais brincar de mulher maravilha, só queria ser bonita como ela, rsrs!
Com a maturidade, as descobertas da neurociência e psicologia, fomos entendendo porque não podemos e não devemos perder o FOCO.
Há uns quatro anos atrás, meu amigo @julioemmert, referência para mim em vários assuntos e principalmente em gestão da mudança, comentou que estava lendo o na época novo livro do Goleman: FOCO. E me indicou a leitura. Aquilo me pareceu um sinal.
O livro é sensacional. Além de uma linguagem fácil e agradável sobre como funcionamos, o autor desmistifica esse modelo SUPER Herói. E, mais ainda, nos mostra porque não é nem um pouco vantajoso.
Segundo ele, o FOCO é uma harmonia neural (interconexão rica de diversas áreas do cérebro). Nesse estado, os circuitos necessários para tarefa em questão estão altamente ativos. Enquanto isso, os irrelevantes se mantêm inativos, com o cérebro precisamente direcionado às exigências do momento. E ainda, para promover a alta performance pessoal, é necessário elevar a motivação e entusiasmo, evocando um senso de propósito e acrescentando uma dose de pressão.
O exercício de escrever esse texto, por exemplo, assistindo a um programa de TV, ou o tradicional conversar com alguém do seu time lendo e-mails, passa a mensagem para o “interlocutor” de que ele não é nossa prioridade naquele momento. Além disso, nos leva à exaustão, despejando no nosso sangue uma boa dose de cortisol e adrenalina. Vocês já sabem o impacto disso. E quando isso acontece com frequência então… nem se fala.
A neurociência fala que nós funcionamos com 2 sistemas neurais:
- Sistema ascendente – operações mentais de baixo para cima (na parte de baixo do cérebro), no qual o nosso cérebro economiza energia e esforços cognitivos por responder ou interagir de forma mais intuitiva, involuntária e automática. Esse sistema é movido por emoções executoras de nossas rotinas por ser liderado pelo nosso sistema límbico.
- E o outro sistema, o descendente, com operações mentais de cima para baixo (na parte de cima do cérebro, mais precisamente no córtex pré frontal, que atua de forma mais lenta, esforçada, voluntária, orientada ao autocontrole, etc). E, obviamente, essa operação no sistema dois nos faz gastar mais energia cognitiva e nos estressa.
A vida imersa em distrações digitais cria uma quase constante sobrecarga cognitiva, que mina o autocontrole. A mente de um leitor, por exemplo, divaga 20% a 40% do tempo que lê um texto. E divagar não é bom? Geralmente a divagação nos leva para pensamentos de obrigações não feitas ou o que fiz ou falei de errado, por exemplo. A divagação só é boa para nossa mente quando a direcionamos, por exemplo através da meditação, onde promovo o pensar no aqui e agora e no “Eu”.
Um exemplo que o Goleman fala muito bem: não é o barulho das pessoas falando perto de mim que me tiram o foco ou a concentração, mas a conversa da nossa própria mente.
E quando fazemos várias coisas ao mesmo tempo, ou seja, “a incapacidade de abandonar um foco para tratar de outros pode deixar nossa mente perdida num ciclo de ansiedade”, abrindo portas para depressão, pânico e etc.
Além disso, quando conseguimos manter o foco, (ou seja ignorar as distrações, sejam emocionais ou sensoriais), conseguimos fazer com qualidade o que temos que fazer. E, principalmente, “viver” de forma intensa e prazerosa uma simples conversa com o pai ou a mãe sobre o seu dia, permitindo que quando eles se forem (no caso do meu pai), fique com você aquela memória emocional gostosa e saudosa, de uma tarde despretensiosa ou de um bate papo aleatório.
Esse é exercício do foco: está no brincar com os filhos ou tomar um café com quem admiramos, observando seus comportamentos, expressões, rugas e brilhos dos olhos. E eles são mágicos porque nos permitem ser felizes com pequenas coisas: as importantes.