Cheia de vida! Uma reflexão sobre o segredo da longevidade e o papel das lideranças no bem-estar integral da sociedade
Foi logo na primeira semana de janeiro. Eu estava entrando na ciclovia com a minha bike, feliz da vida e orgulhosa pela minha nova fase profissional e pessoal, me sentindo jovem e saudável com os meus 51 anos, ciente que estou vivendo um ótimo momento de qualidade de vida e de propósito. Quando de repente…
Ao esperar o sinal abrir, olho para o lado e avisto vindo ao meu encontro um homem, de aproximadamente 60 anos, com sua roupa esporte, “super” em forma, com um semblante alegre e nas mãos… um cabide de roupa formal de trabalho. Era claro que ele estava indo para a academia e depois iria trabalhar em algum escritório na região. E então, uma alegria me invadiu ao reconhecer nele um amigo antigo.
Ele havia sido meu cliente, na época da fusão do Banco Nossa Caixa com o Banco do Brasil, onde atuei com um grande time no projeto de integração das empresas. Além do encontro, o que me deixou alegre foi perceber como eu, ele e várias pessoas da nossa geração estão vivendo uma importante mudança de comportamento: estamos buscando nos divertir mais, viver mais, ser mais e deixarmos nosso legado nesse planeta com mais consciência.
Meu orgulho de pertencer a esse “grupo”, aumenta a cada dia. Sabe? Quando éramos mais jovens, considerávamos as pessoas com mais de 30 “coroas”, então, poder perceber na pele que agora os 60 são os novos 40 e os 40 são os novos 20, é incrível! Me lembrei do filme Cocoon (1995), no qual os “velhinhos” descobriram uma piscina que quando mergulhavam se sentiam fortes, com energia e com vontade de viver. Hoje, me vejo como no filme e confesso, me divirto muito com isso!
Parece que a ciência imitou a arte. Essa piscina agora é acessível a todos. Ela é o nosso Eu, é o encontro conosco na descoberta de que viver bem é o que importa, de que felicidade é agora e que esse presente é o grande presente. Não mais a piada de que na terceira idade “teríamos dinheiro, tempo, mas não teríamos saúde”.
Mas qual o segredo? A tecnologia mudou nossas vidas, ampliou nosso conhecimento sobre saúde e autocuidado, além de oferecer soluções que estenderam nossa longevidade e a neurociência nos trouxe várias dicas valiosas, tornando esse sonho possível. Mas, além de tudo isso, existe um componente essencial que está nos permitindo essa nova vida.
Um estudo de Harvard, que durou 75 anos, no qual o quarto diretor, o Dr. Robert Waldinger, que deu origem ao Ted Talk “What makes a good life? Lessons from the longest study on happiness”, traz a seguinte temática: se você fosse investir no seu melhor “eu” futuro, no que você colocaria seu tempo e energia? O estudo mostra que as relações pessoais são o caminho. Quem desenvolveu laços fortes com outros seres humanos, viveu mais e melhor. O sucesso maior está no afeto trocado, dividido e saboreado.
Como vivemos ¾ das nossas vidas no ambiente de trabalho, essa receita fica um pouco mais complicada. Será que conseguimos ter essa qualidade de relações e experiências no ambiente profissional? O quanto conseguimos ter, durante nosso dia, momentos agradáveis em ambiente seguro e de afeto?
Isso me faz pensar na responsabilidade que, nós líderes, temos na vida das pessoas que nos cercam. O quanto um ambiente tóxico pode comprometer essa “longevidade e felicidade”? Qual é o papel de cada um de nós, como pessoas que influenciam outras pessoas e qual o papel das organizações nas vidas dos seus colaboradores?
Diante a minha experiência, acredito que há pequenas ações, acessíveis a todos, que promovem um ambiente saudável, como: ouvir de verdade seu time, dar espaço para que as pessoas sejam quem elas quiserem, promover o lugar de fala, incentivar a entrega a partir dos diferentes pontos de vista, dar abertura para as pessoas ajudarem a construir a cultura da empresa, incentivar o cuidado da saúde física, emocional e etc – que não exigem grandes investimentos e nem ações complexas, mas sim, lideranças felizes.
Só quem é feliz e valoriza a vida, consegue promover um ambiente igual.
Quando falo de cultura, costumo usar o exemplo de que eu não consigo entender um ambiente frio, de neve, se estou em um país quente, de sol e praia. Eu não consigo oferecer aquilo que não tenho. Não consigo vender o que não acredito. Portanto, não há empresa feliz e saudável, se os líderes não são felizes e saudáveis também.
Como profissional da área de RH, entendo que a organização que não tiver líderes “pessoas” – que tenham vida pessoal, que não queiram ser perfeitos, que assumam erros, que tenham relacionamentos fora da organização, que cuidem da própria saúde e que queiram viver, antes de querer enriquecer – não alcançará resultados perenes, porque não conseguirão promover um ambiente desta natureza.
A neurociência vem desvendando a cada dia o poder da ocitocina na felicidade, na produtividade e no engajamento das pessoas. Quanto de dinheiro investimos anualmente com programas, treinamentos e benefícios buscando com que todas as gerações se engajem e sejam retidas, sem nos darmos conta de que o caminho para esse engajamento está dentro das pessoas? Precisamos aceitar que o único caminho sustentável para criar essa realidade é, de fato, criarmos ambientes onde as pessoas são bem tratadas e como plantinhas cheias de potencial para crescer, serem regadas diariamente, com motivação, respeito e empatia.
Harari, no livro Homo Deus, explica que a guerra contra a morte, ou envelhecimento, passou a ser especialmente validada a partir da declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948. “Somos constantemente lembrados de que a vida é o que há de mais sagrado no universo. O direito à vida é valor fundamental da humanidade.”
E de novo a reflexão… Como estamos cuidando desse direito? E como estamos preservando esse direito para as pessoas que convivem conosco?