Vivemos uma época de polêmicas, conflitos, divergências e falta de tolerância com o diferente. E, diante desse cenário, resolvi trazer um tema bastante delicado: a reinserção de egressos no mercado de trabalho.
Esse problema vai muito além da opinião pessoal sobre o merecimento ou não de novas oportunidades. Por isso, apresentarei aqui algumas propostas que contemplam toda a complexidade da questão. Acompanhe!
A violência na sociedade
Infelizmente se tornou recorrente vermos seres humanos agredindo seus semelhantes. Meu querido pai, que era policial civil, via toda essa brutalidade de perto e sempre nos alertava:
— Imagine algo que ninguém é capaz de fazer, tem gente que faz.
— Tome muito cuidado na rua.
— Não confie em todo mundo.
— Se proteja e preserve.
Esses são conselhos que refletem o receio de vários familiares diante da violência e da falta de amor ao próximo que também ocupam as manchetes dos jornais, a grade da TV, o feed do Facebook, os post no Twitter, enfim… toda a nossa realidade.
Mas ao mesmo tempo, meu pai se orgulhava em falar “no meu preso ninguém bate”, sempre que ocorria algum movimento de hostilidade ou de desacato aos direitos humanos. Ele nos criou (a mim e meus irmão) acreditando que todos, sem exceção, merecem respeito quanto indivíduo.
A segunda chance
A segunda chance é algo muito complicado. Sempre fazemos julgamentos a partir do nosso ponto de vista, do nosso “sofá”, junto a uma família unida e em uma casa confortável. Esse distanciamento impede que a gente reconheça as dificuldades que os outros viveram.
É claro que nada justifica um crime, mas acredito que as pessoas podem mudar. Como uma especialista em gestão da mudança, que cresceu tanto como pessoa quanto profissional na área, eu tenho muita fé no ser humano.
O fato é que, segundo o Institute for Criminal Policy Research, 70% dos egressos voltam para o crime. O motivo: alguns não querem mudar, outros preferem essa vida louca e há, também, aqueles que não conseguem uma segunda chance.
Quando não damos oportunidade para quem está em busca, estamos contribuindo para que retornem ao que eram antes, aumentando, inclusive, o risco à nossa vida como cidadão. Afinal, é esse egresso que não foi reinserido que vai nos assaltar na próxima esquina.
O Instituto Recomeçar
Há aproximadamente 3 anos, por meio da ONG Gerando Falcões, conheci o Instituto Recomeçar. Sob a liderança do meu amigo Leo Precioso, também egresso e um líder incrível, o programa vem, como no filme “Até o último homem”, realizando esforços para oferecer uma segunda a homens e mulheres, direcionando-os a um caminho idôneo.
De maneira geral, o propósito do projeto é reinserir no mercado de trabalho os egressos que cometeram alguns tipos de crimes e que, “pelos olhos da justiça”, cumpriram suas penas e pagaram suas dívidas.
Muitos executivos e empresários contribuem com a iniciativa. Empresas conceituadas como Accenture, Ambev e Porto Seguro contratam egressos, mas ainda não é o suficiente. Pense bem: se o mercado já não tem vaga para aquelas pessoas com seus dados “limpos”, imagine qual é a situação para alguém que possui qualquer “mancha” em uma ficha criminal…
O funcionamento do programa
Ações focadas nas crianças, tirando-as da rua e propiciando boa educação e modelos para que sigam um caminho honesto são efetivas. Mas temos um problema hoje. De curto prazo. Lá fora.
No Instituto Recomeçar, os egressos passam por várias etapas de seleção que garantem que eles realmente se arrependeram e buscam novas oportunidades.
O processo contempla também várias ações de atendimento psicossocial para resgatar esse humano e prepará-lo para tentar uma nova vida. A ideia é combater a baixa autoestima, a insegurança, a revolta, a vergonha e vários sentimentos presentes nesse momento.
Em seguida, realizam aulas de cidadania e um preparatório para entrevista. Assim, se tornam aptos para serem encaminhados à qualificação profissional e conclusão ensino básico, fomentando a empregabilidade.
Um convite especial
Eu sempre me achei privilegiada, por ter pais presentes, com muita ética, em lar harmonioso, amoroso e seguro. Mas se eu vivesse na comunidade, vendo minha mãe sofrer violência doméstica, o meu pai se drogar, passando necessidade e me sentindo excluída da sociedade, será que eu seria a pessoa que sou hoje? Ou será que eu cometeria também algum crime ou delito?
Tendo em mente essa perspectiva, gostaria de te convidar para o webinário “Livres e responsáveis”, no qual serão apresentados diversos painéis para discussão dessa questão social que é de todos nós.
Dentre várias pessoas ilustres, estarão presentes a V.Ex.ma Ministra Carmen Lúcia e o Ex. Ministro da Segurança Pública Raul Jungmann, que debaterão a situação do egressos do sistema penitenciário.
Para participar, basta acessar o link do evento e se inscrever. Essa é uma iniciativa muito valiosa e, juntos, seremos capazes de mobilizar e ampliar a visão da diversidade nas organizações!